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sábado, 22 de fevereiro de 2014

Espaço da Pupila (2) - por Berna Fayed

Como a dança mudou minha vida

A dança me ajudou a sair de um momento crítico da qual eu me encontrava antes de conhecer a dança.

Quando procuramos algum tipo de atividade pra poder passar o nosso tempo, não temos ideia do quanto de bem essa atividade possa fazer em nossa vida.

Passamos a maioria do tempo, mais ainda nas horas ociosas, preocupados com nossos problemas e dando importância demais a elas.

Eu estava passando por uma dificuldade familiar que muito me fez mal física e mentalmente, onde procurei ajuda de um profissional que então me deu a ideia de procurar algo para que eu pudesse distrair e ter mais foco.

Foi aí que veio a dança do ventre. A dança me ajudou a entender e ver que muitas dessas dificuldades em que passei foi por conta da tamanha importância que dei aos meus problemas. 

Também identifiquei algo que ainda não era explorado no mundo bellydance, a maquiagem propriamente feita dentro dos eventos de dança. E essa descoberta veio pra me completar.

Com o passar do tempo tive um olhar totalmente diferente pra tudo e todos que me rodeavam, hoje olho o próximo com mais calma, complacência, amor, bondade e mais respeito. 

Mas a minha principal conquista foi bem pessoal, aprendi a respeitar mais o próximo e ter mais amor próprio.

Meus problemas não são tão maiores que os dos outros. Então tomei como lema pra minha vida que tudo passa. Até uva, é passa!

Eu iniciei os estudos com uma professora que era mais voltada para dança cigana, então depois de um tempo senti a necessidade de mudar, e procurei alguém mais capacitada pra poder suprir algo que eu ainda via que estava faltando em mim.

Fiquei por uns três anos totalmente dedicados ao grupo da minha segunda professora onde tive a oportunidade de aprender com uma profissional mais qualificada, com quem aprendi muita coisa. 
Com isso consegui a lidar mais com o palco e o público, a desenvolver mais minhas expressões e enfrentar meus medos. 

Ainda tenho muito pra crescer e aprender e por isso tenho investido nos estudos em dança e conhecimento corporal com novas profissionais também muito capacitadas no mercado.



Hoje busco aprender ou aprimorar coisas que antes não tinha domínio entre outras coisas que são novas pra mim.  Não imaginava que pudesse sentir a necessidade em aprender muito mais depois que eu comecei as apresentações solo. Senti que deveria sim me dar ao direito de aprender mais e mais. Mas o desafio foi lançado, estudar é meu foco e pôr em prática tudo que eu aprender de aqui pra frente é a minha meta. Sem medo e sem passar por cima de ninguém.

O caminho é longo e a minha dedicação e vontade são muito maiores neste momento. Quero seguir na dança do ventre não por puro ego ou satisfação, mas sim pelo desafio que tenho em querer superar as minhas dificuldades e limitações e ser ainda mais feliz.

Hoje sou mesmo muito feliz sim, porque eu amo a dança do ventre, vivo a dança intensamente, admiro e amo ver as colegas dançarem superando seus medos e seus conceitos, respiro a dança apesar de ser Turismóloga e trabalhar numa agência de viagens e amar viajar e conhecer novas culturas.

Agora é seguir em frente sempre e agradecer a todos os que contribuem para meu crescimento e aprendizagem. Sou muito grata!!

Berna Fayed, que encontrou na dança a felicidade e reencontrou aquela menina alegre, sorridente e realizada de antes. Está em constante transição. Uma eterna aprendiz. Iniciou os estudos com Hadjza Kalif e vai fazer quatro anos de dança e hoje é aluna de nível iniciante de Zarah Li e que vai participar a partir de Março de um curso de aprimoramento com Samara Nyla e pratica Bellyflex com Adrielle Brites.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Segurança no palco

Vamos combinar que enfrentar um palco não é para qualquer um? O palco engole a gente mesmo e é preciso coragem para enfrentá-lo sem perder a cara linda e ainda dançar bem! Se você está aprendendo alguma dança, a chance de enfrentá-lo algum dia é enorme! E como fazer isso sem muito traumas?

Segurança é um dos quesitos que irão garantir uma boa performance. A bailarina pode nem estar dançando grandes coisas, mas se ela passa segurança e passa a sensação de que sabe o que está fazendo, isso faz com que ela ganhe atenção e até, respeito do público. Segurança inclui muitas coisas como experiência, calma, clima do lugar, um pouco de cara de pau e, principalmente, treino! Treinar significa coreografar? NÃO! Você pode treinar sim sua coreografia e mesmo que você esqueça na hora, o treino te ajuda a improvisar. Ou treinar limpeza de movimentos te garante movimentos mais automáticos e limpos, fazendo com que você se preocupe com outra coisa na hora de dançar. Nesse vídeo, a bailarina está em um concurso e realiza movimentos com muita rapidez e leveza e notoriamente, a segurança impera:



A velha experiência: essa daí, você tem que ter paciência pois vem com o tempo e com as oportunidades. A experiência de palco, de público, de som, de luz... essa sempre te faz crescer! Improvisar bem também é resultado de sua segurança e experiência! Dica: não deixe de improvisar em sala de aula e não negue dançar porque você acha que é muito iniciante! Se a professora disse para você dançar, DANCE! Aqui, Lulu resolve tirar os braceletes (6:53) e o véu fica no rosto (2:05):



Música ao vivo? É, uma dose a mais de nervoso entra em ação porque nunca sabemos como os músicos irão tocar a música que você escolheu. Mas ok, você, pelo menos, conhece a música e provavelmente, você perderá uma parte ou outra... não será motivo para perder a segurança! Dica: está ficando nervosa durante sua performance ao vivo? Interaja com o cantor/músico e respira. Aqui, Michele Trentin fez tudo de dificil: dançar com banda ao vivo, cantor e snujs ao mesmo tempo:



"Ai, a música falhou!" Ok, se ela não voltar ou ficar muito ruim, agradeça e saia do palco. Não é motivo para ficar nervosa, pois todo mundo está vendo que a falha é do som e não sua! E se ela falhar um pouquinho? Daí, entra um pouco da sua cara de pau: interaja com o público!



Bons treinos e boa sorte!

Bauce kabira,
Hanna Aisha

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Desconstruindo leituras - Especial (2)

Apesar de ela ser uma conhecida da cidade do Rio de Janeiro há um certo tempo, foi no Festival Shimmie de 2013 que ela foi apresentada ao Brasil:



Em 2012, ganhou o primeiro lugar do concurso no Festival da Amani no Líbano por voto popular e o segundo lugar no concurso com o júri técnico! Desde 2009, ela é minha convidada como bailarina do meu evento "Zahra Sharq" e ela está crescendo cada vez mais aqui na cidade, dando vários workshops, e não é por menos! Dentro e fora dos palcos, ela é linda, simpática, carismática... ah sim, e muito competente e séria no que faz! Seja como bailarina (ela se formou em Faculdade de Dança), professora (ela também criou o método BellyFlex), coreógrafa (ela dirige seu Grupo Hátor), administradora (ela é dona do Espaço Hátor), produtora (ela organiza o evento local Leila fi Hátor) e sim, ela é minha amiga!... :-) Como eu sempre digo à ela, quando eu me aposentar da Dança do Ventre, continuarei a ficar na primeira fila para assisti-la!

Por que ela ganhou um "Desconstruindo Leituras - Especial"? Dá uma olhada nos vídeos dela e me retorna!



Bauce kabira,
Hanna Aisha

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Mambouty – a dança dos pescadores e a Semsemeya

Eu vi alguns vídeos sobre semsemeya e como nunca aprendi "formalmente", não me senti à vontade para escrever um post sobre esse tema. Logo, pedi ajuda a uma bailarina que, até onde sei, sabe bastante sobre o assunto: Bianca Gama. Espero que gostem! [O texto e vídeos são de responsabilidade da autora]
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Pessoas como nós foram enfeitiçadas. Não podemos ignorar o chamado da sereia. A 
semsemeya enfeitiça todos aqueles que cantam e tocam e todos aqueles que dançam. Até a plateia que os assiste.
El Wazery, no documentário “The Siren”(El Mastaba Center for Egyptian Folk Music)

Tanbura
O Mambouty, conhecido como a dança dos pescadores, é um folclore egípcio originário da região no entorno do Canal de Suez – canal que liga o Mar Vermelho ao Mediterrâneo; mais especificamente às cidades de Ismaileya, Port Said, El Qantara e Suez, no baixo Egito. Sua música se caracteriza principalmente pela presença marcante de palmas e uma ou mais espécies de “liras antigas”, tal como as liras gregas, chamadas Semsemeya e Tanbura.
Tradicionalmente, a Semsemeya é uma pequena lira de cinco cordas que pode ser encontrada em inúmeros retratos de tumbas egípcias, ilustrando músicos da antiguidade que entretinham os faraós e outros dignitários da corte. É importante ressaltar que apesar do seu caráter remoto, a utilização deste instrumento ainda é muito comum na sociedade egípcia contemporânea.
Em contraste, a Tanbura é uma lira maior com seis cordas que era habitualmente usada nas cerimônias de cura Zaar. Pensa-se que este instrumento tenha sido trazido para o Egito durante o século 19, após a conquista de parte do território do Sudão. Quanto à procedência da Semsemeya, não se sabe exatamente qual seria a sua origem, mas se acredita que ela seja uma variante da Tanbura. Uma lenda egípcia conta que o primeiro destes instrumentos foi criado a partir da casca de uma tartaruga que nadou muito longe ao longo do Nilo e acabou se tornando o jantar para um músico com fome. Outra lenda afirma que a Semsemeya já existe há séculos no Golfo Pérsico e que a sua música teria a capacidade de acalmar as águas do Mar Vermelho...
Semsemeya
Atualmente, para acompanhar o canto há versões modernas e até mesmo variantes destes instrumentos, que possuem de 12 a 14 cordas metálicas, com saída eletroacústica, podendo chegar a ter até 25 cordas, que são afinadas para atender aos diferentes maqams/escalas da música oriental, além daqueles mais utilizados como o Rast e Bayati. Nos dias de hoje, também podemos encontrar a Semsemeya em músicas da Jordânia, Iêmen, na península do Sinai (inclusive em canções beduínas) e pelos arredores do Mar Vermelho.
Confira algumas imagens do Canal de Suez, os relatos dos músicos, a distribuição destes instrumentos pelo Egito e um pouco de dança nos diferentes estilos de música compostos com a Tanbura, a Semsemeya e outros instrumentos aqui:

Parte 1 do documentário “The Siren”:


Parte 2 do documentário “The Siren”:


 A palavra Semsemeya, assim como Simsimiyya, Bambouti, Bambouteya, Bambutiyya e Mambouty, também é utilizada como sinônimo do gênero musical desta região (que inclui a música e a dança). Também é encontrada a distinção no uso das palavras; Semsemeya se referindo ao instrumento e à música, assim como Bambouteya se referindo unicamente à dança e aos passos de dança. A etimologia da palavra Mambouty aproxima-se da expressão inglesa “Men Boat”, fazendo uma clara alusão aos trabalhadores do Canal.
Ao longo dos tempos, o Canal de Suez tem sido uma passagem de importância crucial entre a África e a Ásia. Há muito tempo, peregrinos muçulmanos já viajavam através de Suez a caminho para Meca. Desta forma, é natural compreender que esta região tenha sido afetada por diferentes influências culturais. A conclusão do Canal de Suez, em 1869, foi um evento estrategica, politica e economicamente muito importante para o Egito, e isso também afetou o desenvolvimento da música popular do distrito. 
Durante a sua construção, os trabalhadores provenientes de todas as partes do Egito trouxeram com eles as suas próprias tradições musicais, tal como fizeram os engenheiros ocidentais e todo o pessoal administrativo com suas famílias. Port Said foi dividida em duas partes, uma ocidental e outra egípcia. Os egípcios se reuniam semanalmente em bailes denominados “dammas” para tocar a sua música e cantar. Nestas ocasiões, se utilizavam a tabla, colheres, palmas e às vezes um pandeiro para acompanhar as canções. A Semsemeya só foi incorporada à música local depois. De acordo com algumas fontes, o instrumento chegou ao canal apenas em 1938, e posteriormente se adaptou à tradição musical do local, por intervenção de um músico chamado Zakaria Ibrahim, criador da proeminente banda El Tanbura.

El Tanbura band:


A música Semsemeya ganhou uma importância política peculiar por volta de 1950 quando as canções passaram a falar sobre o movimento de libertação contra a ocupação britânica do Canal de Suez. Várias de suas músicas versavam sobre o crescente movimento de nacionalização do canal, assim como o espírito de luta de Suez. Uma das personalidades mais conhecidas na formação da música Semsemeya é Mohamed Mahmoud Ghazali, conhecido como capitão Ghazali, que foi um líder do movimento de resistência, o qual formou uma banda que era levada para a linha de frente nas batalhas, para tocar as suas músicas e encorajar os combatentes.
A dança Mambouty é uma parte essencial do repertório das trupes de folclore do Canal. Essencialmente, é uma dança masculina alegre e vigorosa que se caracteriza por passos rápidos, saltos bem altos, passos do tipo “charleston” (ao que tudo indica, que foram absorvidos dos marinheiros ingleses), sapateado, palmas (“kaff”) e alusões ao cotidiano rotineiro do mar como “avistar, puxar e jogar a corda, remar”, motivo principal para ser chamada também de dança dos pescadores. Também podemos encontrar a utilização de um par de colheres de metal e bastão nesta dança.
Os vídeos abaixo representam o estilo de dança Mambouty, realizado pelo bailarino e professor egípcio Mohamed El Hosseny, ex-integrante da Trupe Reda, atualmente radicado na Finlândia, porém nativo de Suez e especialista neste tipo de folclore:


Os “Man Boat” eram pescadores, guardas-marinha, comerciantes barqueiros e também trabalhadores do porto, que, como mencionado anteriormente, ao se reunirem nos dammas utilizavam palmas, colheres, assim como panelas e daffs para acompanhar e dançar as canções que eram tocadas naquela região. Esta dança não possui um traje específico e a roupa utilizada no palco reflete a origem da classe trabalhadora deste folclore. Deste modo, é comum vermos apresentações com roupas que fazem alusão à Marinha, ao mar e roupas no estilo “Popeye”.
Ressalte-se que a participação feminina neste folclore suscita muitas dúvidas quanto a sua inserção. Até o momento, não está claro pelas minhas pesquisas se mulheres costumavam mesmo dançar originalmente nos dammas ou se a inserção de mulheres na dança Mambouty se deu pela adaptação para o palco e a teatralização deste folclore; visto que existe a possibilidade de mulheres dançaram vestidas de homens ou utilizando a roupa típica no estilo “Baharey” (relativo ao mar, relativo também a esta região), que é o vestido curto utilizado em apresentações de Melea-Laff.




Fato é que uma performance mista de homens e mulheres pode ser realizada com homens dançando os passos masculinos do Mambouty e mulheres trajadas com o vestido Baharey, utilizando ora alguns passos de Mambouty, assim como o próprio repertório da dança oriental. Confira aqui uma coreografia das professoras do Oriental Studio de Dança:


É muito importante ressaltar que a Semsemeya ou Mambouty ainda é uma tradição viva no Egito. Casamentos são organizados em Suez com bandas de Semsemeya para entreter os convidados e as músicas atuais refletem os temas contemporâneos do Egito. Como exemplo, no início de 2011, a banda El Tanbura participou da revolução egípcia, fazendo campanha para a reforma social, política e cultural no Egito e tocando para os manifestantes na Praça Tahrir, no Cairo.
Finalmente, gostaria de ressalvar que este artigo é fruto de pesquisas combinadas de algumas fontes, e não representam uma verdade absoluta e inequívoca. Novas fontes de referências podem alterar parte do texto acima, à medida que outras informações vão sendo adicionadas e comparadas entre si. 

Referências básicas:
Bailarino e professor egípcio Mohamed El Hosseny, especialista neste tipo de folclore

Bianca Gama
biancaegama@hotmail.com

Embora Bianca sentisse desde criança uma forte atração pelo sons do oriente, foi somente em 2000 que ela seguiu seu impulso para adentrar no mundo da dança do ventre. Foi então na primeira aula, realizada na data de seu aniversário, que ela foi completamente conquistada por uma professora iraquiana, Sandra Chitayat. Desse momento em diante seguiram-se muitas aulas, ensaios, coreografias e apresentações. No ano de 2005, Bianca deu início ao ensino dessa modalidade de dança, ministrando aulas nas quais desenvolveu um método próprio de desenvolvimento corporal, relaxamento e conscientização rítmica. Sua técnica e expressão foram aprimoradas com renomadas professoras brasileiras, como Lulu, Carlla Sillveira, Clara Sussekind, Melinda James e Luciana Midlej, assim como de professores egípcios como Raqia Hassan e Gamal Seif. Já viajou para países como a Turquia e Egito para ampliar os seus conhecimentos. Atualmente, Bianca é professora do quadro do Oriental Studio de Dança, em Jacarepaguá, Rio de Janeiro.