Translate this blog!

domingo, 20 de setembro de 2009

Origens da Dança do Ventre Contemporânea (Raqs Sharqi)

Post revisto e reescrito em 30/09/18

As informações desse texto foram retiradas e vêm sendo modificadas eventualmente, a partir do texto da Bianca Gama (mas fazendo uma pesquisa rápida eu vi que esse texto foi traduzido de vários sites), do blog da Nadja El Balady (que fez um superpost sobre isso e peguei algumas partes principais para colocar aqui - vale ler e ver os vídeos) e do livro "Egyptian Belly Dance in Transition: The Raqs Sharqi Revolution, 1890-1930" da Heather D. Ward (2017). Este me é um assunto cada vez mais caro e cada vez mais chego à conclusão de que ele não cabe em um simples post de blog.

Muito se procurou saber sobre as origens da DV e alguns pesquisadores encontraram vestígios de danças sagradas e ligadas a ritos de fertilidade em civilizações muito antigas, em diversas partes do mundo, muitas delas ligadas à culturas pagãs da antiguidade. Muitos destes relatos começaram a ser escritos a partir de 1798, com a ocupação francesa no Egito, por Napoleão Bonaparte. Porém, cada vez menos se acredita nisso pois, hoje, é possível estabelecer uma reconstrução das origens do que chamamos bellydance e que os egípcios chamam de raqs sharqi. O que ainda é um mistério são as origens das danças populares egípcias, como baladi e ghawazee.

O que se cada vez mais comprova hoje é de que a DV é uma dança cênica inspirada na tradição popular e o baladi foi o início dessa inspiração. No século 18, haviam 2 tipos de bailarinas: as “awalin” (mulheres de alta classe social especializadas em tocar, dançar, cantar, versar e compor) e as “ghawazee” (mulheres de clãs familiares, entre homens e mulheres, dedicados à arte popular, se apresentando nas ruas), retratadas por diversos artistas no século XIX:


No final do século XIX e princípio do XX, temos no Egito uma grande revolução social, em que o país foi social e economicamente comandado pela Inglaterra, levando para o Cairo muitos estrangeiros, investidores, arqueólogos e pesquisadores, além de inovações tecnológicas como a fotografia e o cinema. Muitos cassinos e casas de espetáculos atraíram não só os estrangeiros, como os próprios egípcios negociantes e residentes na capital. Neste contexto, surgem duas grandes bailarinas: Badia Masabni e Shafiqah La Copta.

Shafiqah El Copta (ou el Koptiyva), nasceu em 1851, no subúrbio de Shobra, no Cairo. Sua família era respeitável, conservadora e modesta e ficou escandalizada quando ela começou a pensar em dançar. Aos 19 anos de idade, foi descoberta por Shooq e fugiu para aprender a dançar, enquanto sua família pensava que ela estava na igreja. Era estudante da primeira dança oriental egípcia de Shooq. Seus pais morreram quando ela ainda era jovem. Depois que se casou, ela viveu sob circunstâncias pobres e tentando melhorar de vida, dançando nos clubes. Com a morte de Shooq, Shafiqa se tornou a maior bailarina e mais rica e famosa do Egito.

Sua primeira performance foi em festivais de folclore. Os fãs de Shafiqa costumavam jogar moedas egípcias de ouro sob seus pés. Dançou e encantou com sapatos de ouro e brilhantes. Foi uma grande artista em todos os aspectos e possuía uma graça admirada por todos os espectadores. Ganhava muito dinheiro e foi extremamente generosa, teve um importante papel durante a revolução de 1919, ajudando de diversas maneiras os revolucionários egípcios que resistiam à dominação inglesa.

Shafiqa Al-Qibtiyya já era uma lenda na era de 1920, era extremamente bela e inteligente e ganhou fama por dançar na boate "El Dorado". Ficou conhecida pelas suas inovações, como dançar com candelabros na sua cabeça ou equilibrar uma bandeja de bebidas no seu corpo. Entre seus admiradores, havia muitos ministros e outras pessoas influentes. Este período marcou o começo da era de bailarinas famosas no Egito. Bailarinas de sucesso como Shafiqa Al-Qibtiyya começaram a abrir seu próprio salah (clubes) e ela era proprietária do "Alf Leyla" Clube.

Ela tornou-se extremamente rica, mas seu sucesso não só trouxe seu dinheiro e como ela gastava muito, tornou-se viciada em cocaína e morreu desamparada em 1926. O traje de dança de Shafiqa não era como o das bailarinas mais famosas que, 30 anos mais tarde, apareceram em cena. Shafiqa viveu uma vida intensa e cheia de êxitos artísticos. Sua vida foi levada ao cinema. O filme "Chafika el Kebteya" ou "Shafika the Copt" de 1963 e dirigido por Hassan El Imam, relata a história desta lendária bailarina. O filme conta com Hind Rostom, Hassan Youssef e Zizi El Badrawi.

Nascida em 1893, Badia Masabni é considerada a avó da dança oriental, nasceu no Líbano e estabeleceu-se no Egito [na verdade, há dúvidas sobre seu local de nascimento original, podendo ter sido na Síria também]. Foi proprietária do famoso "Cassino Ópera", na década de 40. Este era o nome oficial do cassino, mas também era conhecido como "Cassino da Badia" ou "Cabaré da Madame Badia". No início, ela se apresentava, mas conforme o seu sucesso aumentava, ela introduziu na casa diversos músicos, peças de teatro e, depois, dança oriental, contratando bailarinas, inclusive, de outras nacionalidades.

O cassino incluía comediantes, cantores e bailarinas. Ela apresentava suas danças e lá estiveram atuando grandes estrelas, entre elas Taheya Carioca, Naima Akef e Samia Gamal. Trabalhava com uma equipe completa composta de músicos, tais como Farid El Atrach e Mohamed Abdul Wahab. Este cassino foi frequentado por intelectuais egípcios e pela aristocracia nacional e estrangeira que frequentava o Egito na época.


Alguns autores acreditam que Badía mudou o cenário da dança egípcia, criando um novo estilo de dança, usando coreógrafos ocidentais e sendo chamada agora de Raqs Sharqi. Ela também introduziu um coral de 30 bailarinas. Adorava fazer relações públicas. Após muitas intempéries, Badia vendeu o cassino, obteve um passaporte falso e foi para sua terra natal. Devia impostos ao governo egípcio. Morreu em Beirute em 1975 e o Egito todo a recorda com carinho. Com Badia, formou-se toda a geração de bailarinas egípcias. Aqui nesse blog, uma história mais completa sobre Badia.

O cinema egípcio teve grande importância na divulgação da dança do ventre pelo mundo árabe e foi grandemente divulgada para o ocidente por Hollywood e vale dizer que a dança sofreu grande transformação neste período. Deixando as casas e as ruas e se elevando ao palco, esta dança precisou também aprimorar e novos movimentos foram incluídos, inspirados nos movimentos de ballet, mas ainda tendo inspiração no balady e folclores.

Mahmoud Reda é um grande marco da história da dança cênica egípcia. Este grande coreógrafo foi ator e dançarino, com grandes participações no cinema e na TV com sua "Reda Trupe" e a primeira bailarina Farida Fahmy. Não há como falar da história da dança egípcia sem mencionar seu trabalho. Reda "reinventou" a dança popular egípcia, tendo feito pesquisa de movimento e contexto social em diversas áreas do Egito.


A partir da década de 70, surgem novas grandes dançarinas e estrelas do cinema como Nagwa Fuad, Fifi Abdo e Suheir Zaki. Na década de 80, surgem Lucy e Dina. Algumas estrangeiras passam a ver o Egito como uma grande oportunidade para despontar e dão certo como a brasileira Soraia Zaied, a argentina Asmahan, a inglesa Sahra Saeda e a russa Nour. A partir dos anos 2000, milhares de dançarinas estrangeiras em busca de conhecimento e novas oportunidades de trabalho embarcam para lá, mas atualmente, o Egito está sofrendo uma séria crise cultural, política e religiosa.

Com a popularização mundial da DV e com a internet, novos estilos (argentino, norte-americano, libanês, turco, leste europeu) surgiram para nos confundir sobre o que é "certo ou errado"; mas ainda bem que através dela mesmo, podemos estudar e trocar informações e juntas chegarmos a uma conclusão. Alguém duvida da influência que as Bellydance Superstars tiveram sobre nós, brasileiras, no início dos anos 2000?


Para um bom resumo sobre a dança no Egito, vale ir nesse link no Gilded Serpent.

Bauce kabira,
Hanna Aisha

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Estudando língua árabe

Terminei um curso de árabe clássico de 2 anos e posso dizer que vale muito a pena as bailarinas profissionais terem essa experiência, pois nos ajuda a entender pelo menos, os nomes das músicas, assim como tirar algumas palavras.

Esse vídeo é sobre o alfabeto árabe, como são as letras e os sons. É uma língua que, apesar de ser bem difícil, sua escrita é muito bonita! Quem quiser saber mais, me escreva!


Bauce kabira,
Hanna Aisha